Como os dados de mobilidade podem te garantir mais segurança no trânsito?
Mobilidade urbana - 15 de julho de 2021
Os investimentos em novas tecnologias são essenciais para o desenvolvimento da mobilidade urbana nas cidades. Mas, aliado a este conceito, é primordial que a segurança esteja sempre presente no crescimento das cidades e na implementação destas novas ferramentas.
Mas, de que maneira é possível que isso se concretize? Quais são os conceitos tecnológicos de uma cidade inteligente, como utilizar melhor sua base de dados? Para responder algumas destas premissas, trouxemos o artigo a seguir, desenvolvido pela especialista Stella Hiroki, doutora em Cidades Inteligentes (PUC-SP), convidada que participou, no dia 26/05/2021, da nossa Live Maio Amarelo , uma conversa entre especialistas para incentivar boas práticas de segurança, entre motoristas e gestores viários, como também discutir tendências e a utilização da tecnologia para gerar serviços mais modernos na mobilidade.
Como os dados de mobilidade podem te garantir mais segurança no trânsito?
Por Stella Hiroki
Você já reparou quantos aplicativos estão instalados no seu smartphone que precisam de dados sobre a mobilidade para funcionar? Desde mapas, entregas, transporte privado e até mesmo, as fotos que você compartilha nas redes sociais. Essa grande quantidade de informações que é coletada sobre a mobilidade, por meio dos serviços que utilizamos, muitas vezes são descartadas e as cidades perdem essas informações que tanto poderiam contribuir para a gestão do espaço urbano.
Por isso, a Cidade Inteligente busca de fato aliar a grande infraestrutura de tecnologia que permeia as nossas cidades, sensores, câmeras, armazenamento em nuvem, tags, redes de fibra ótica, e futuramente no Brasil, as antenas para a rede 5G, com a promoção de boas práticas que visam o aumento da qualidade de vida dos seus cidadãos. Aliado a isso, a mobilidade tem papel fundamental nesse trabalho em conjunto, pois incentiva o acesso da população a pluralidade das áreas e discussões promovidas pelo cotidiano em cidades.
Como exemplos de prefeituras que utilizam os dados da mobilidade em seu planejamento mais seguro e atento às mudanças que acontecem no seu espaço urbano, bem como, sempre respeitando a privacidade de seus cidadãos e a ética ao utilizar as informações, temos os casos das cidades de Houston, nos Estados Unidos e dois exemplos de referência também no Brasil: Belo Horizonte – MG e Joinville – SC.
Houston, Estados Unidos
Ao contrário do que muitos podem pensar, o estado do Texas não é apenas uma estrela solitária no meio de um deserto, no entanto, há cidades em seu espaço que sofrem com enchentes. Como é o caso da cidade de Houston, a 270 km da capital, Austin. O Departamento de Emergências de Houston precisava de um sistema que monitorasse e alertasse sobre o começo dos alagamentos em seus bairros. Antes da população avisá-los sobre as áreas em risco, a prefeitura buscava tomar a frente e informar a população. Dessa maneira, ao invés de gastar com um novo software e ter que ensinar a população a usá-lo, o departamento de Emergências pensou: por que não utilizar as informações que a população compartilha nas redes sociais sobre os seus bairros para criarmos esse plano de prevenção a desastres?
Assim, a solução encontrada pelo departamento de Emergências de Houston, por meio das informações que a população compartilha em suas redes sociais com as hashtags (#) e os check-ins de ‘estou em segurança’, foi organizar um plano que alerte a população sobre áreas de risco, novos planos de mobilidade na cidade para rotas alternativas com o objetivo de desviar de locais alagados e também, fluxos para o abastecimento de água potável. Como explica o diretor Francisco Sanchez do departamento de Emergências de Houston: “a população precisa ter um plano, um kit e estar informada.”
Belo Horizonte – Minas Gerais
No Brasil também temos dois casos que atraem a atenção mundial para o nosso país quando o tema é mobilidade urbana. Em Belo Horizonte, a criação do Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH) em 2014 permitiu que a utilização da infraestrutura de tecnologia da cidade focada na mobilidade trouxesse resultados positivos para a Economia Criativa do local. A capital mineira não tinha uma cultura de blocos de Carnaval que atraísse turistas, ou mesmo que fizesse a população não deixar a cidade durante esse feriado.
Por meio dos dados coletados pela COP-BH, que é dirigida pela diretora Georgia Rocha, foi possível organizar as rotas nos bairros onde os blocos de Carnaval atravessam, particularmente, sem afetar o funcionamento do transporte público. Desse modo, Belo Horizonte passou a ser também um destino para os foliões, o que trouxe resultados importantes para a economia dessa cidade, nesse período do ano.
Ao mesmo tempo, nesse cenário de isolamento social, a infraestrutura da COP-BH também monitora situações que possam acarretar em algum acidente à população, como o descarte inadequado de grandes entulhos, como carcaças de carros. Por ser um Centro Integrado, a rápida conversa entre o monitoramento urbano e o setor de coleta de lixo facilita a manutenção das vias, o que garante para o cidadão uma mobilidade mais atenta à sua segurança.
Joinville – Santa Catarina
Joinville-SC localizada a 180 km da capital Florianópolis, como muitas cidades brasileiras, o trânsito é uma das principais questões na agenda da gestão urbana. A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud) percebeu que, ao invés de desembolsar com uma nova plataforma para coletar dados sobre a mobilidade, por que não utilizar as informações que a própria população já alimenta sobre o deslocamento de Joinville, no aplicativo Waze? Desse modo, por meio da parceria com o programa mundial Waze for Cities Data, que a empresa Waze fornece os dados coletados sobre mobilidade para as prefeituras requerentes, a Sepud desenvolveu uma metodologia inovadora. O projeto chamado Smart Mobility, traduz as informações em soluções assertivas para a mobilidade, que levam em consideração a opinião da população.
Em relação a elaboração do projeto Smart Mobility, a Sepud levou em consideração a utilização de softwares livres para não aumentar os gastos públicos. Dessa maneira, foi possível simular cenários que diminuíssem o tempo da população no trânsito, ao mesmo tempo, que garantissem a segurança. Na sequência, foi fundamental o diálogo com a população para verificar se as alterações desejadas estavam de acordo com o cotidiano de quem trafega pela região.
Em vista disso, com a aplicação dessa metodologia em um caso, que foi a colocação de uma rotatória na Rua Ottokar Doerffel, principal acesso a cidade, o resultado foi positivo em tempo e lucratividade. Os motoristas tiveram um retorno de 72 horas/ano que eles não ficam mais presos no trânsito, como também, a prefeitura teve uma resposta de produtividade de R$ 7 milhões/ano, desde a redução do custos com a manutenção da via e acidentes, até outras atividades econômicas que os cidadãos podem realizar com o ganho de tempo.
Waze for Cities Data – Caso de Joinville
Esses exemplos internacionais e também no Brasil, mostram que a mobilidade e seus futuros desdobramentos estão diretamente relacionados com os dados que são coletados em nossas cidades. As ações que visam mais segurança no trânsito e mais acessibilidade da população aos diferentes equipamentos de educação, lazer, saúde e trabalho, caminham de mão dadas com as informações que podemos obter dessa grande infraestrutura de tecnologia que entrelaça nosso cotidiano.
A partir dessas experiências urbanas, você já pensou como a sua cidade pode utilizar os dados para uma mobilidade mais inteligente e segura?